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Carnaval “dá bilhão” ... e muito mais: é a identidade de uma grande nação

Uma frase do ex-candidato à presidência da república, Ciro Gomes, ganhou notoriedade para referir-se ao impacto de eventuais medidas econômicas. Ao ser confrontado com ideias como a redução de ministérios e de outras despesas públicas, o ex-Ministro da Fazenda costuma indagar o debatedor com a seguinte ponderação: “Mas isso dá bilhão?”.


E o que isso tem a ver com o Carnaval?


Bom, a maior festa popular do mundo em termos de público participante também gera alto impacto econômico. Segundo estimativa da Divisão de Economia e Inovação da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o Carnaval de 2023 deve movimentar cerca de R$ 8,2 bilhões no Brasil e mais de 56 milhões de pessoas devem participar dos festejos por todo o país.


Apesar de ainda não haver estudos aprofundados sobre o alcance total do Carnaval nas cadeias econômicas, para se ter uma ideia, apenas no município do Rio de Janeiro são movimentados mais de R$ 4 bilhões anualmente em torno da manifestação cultural.


Dados da Fundação João Goulart e da Prefeitura do Rio (Publicação Carnaval de Dados, 2022) mostram que o carnaval carioca emprega, pelo menos, 70 mil pessoas entre prestadores de serviços formalizados (turismo, hotelaria, limpeza, alimentação etc.), servidores públicos e trabalhadores de órgãos de gerenciamento e empresas de prestação de serviços públicos, além de trabalhadores informais (vendedores ambulantes). Isso sem contar os inúmeros artistas que fazem o grandioso espetáculo acontecer!


Ferreiros(as), escultores(as), pintores(as) de arte, gesseiros(as), artesã(o)s, aderecistas, costureiros(as), passistas, cantores(as), músicos(as), enredistas, pesquisadores(as), carnavalescos(as), entre outros(as), formam a elite artística do espetáculo das escolas de samba. Dotados de conhecimentos técnicos e empíricos singulares e altamente especializados, formam um grande contingente pouco ou nada formalizado, no que diz respeito às relações de trabalho altamente precarizadas.


Por isso, não se tem nem mesmo uma estimativa confiável de quantos são numericamente, em cidades que possuem desfiles de Carnaval, tais como Uruguaiana, Porto Alegre, Florianópolis, Vitória, Niterói, Macapá, Manaus, Nova Friburgo, Santos, Belém, São Paulo e Rio de Janeiro.


Todo ano, as agremiações carnavalescas aperfeiçoam não só a plástica e a harmonia musical de seus cortejos, mas também investem mais e mais na redescoberta e na ressignificação da História Brasileira e de seus povos e territórios.


Nos últimos tempos, verificou-se um movimento de investigação da participação popular na construção da nação, entendendo o protagonismo – e ao mesmo tempo as recorrentes tentativas de silenciamento e invisibilização – de mulheres, indígenas, afrodescendentes e grupos marginalizados na construção do caldo cultural e identitário que se espraia pelo que chamamos de brasilidade.


São narrativas que podem e devem ser ensinadas e debatidas não só nos meios ligados ao samba, ou mesmo na Academia e nas Belas Artes, mas precisam ganhar espaço nos currículos da educação de nossas crianças, jovens e adultos.


O poder do Carnaval derrama-se em muitas outras formas, ritmos, cores e misturas por todo o Brasil. A musicalidade e a ancestralidade dos povos que se encontram neste continente em que vivemos marcam fortemente as ruas, avenidas e ladeiras de cidades como Salvador, Olinda, Recife, São Luís, Diamantina, Ouro Preto e tantas outras, tingindo de colorido os dias de festividade em fevereiro (ou início de março, a depender do ano), e renovando os laços de originalidade (que consagram o frevo, o maracatu, os afoxés e outras traduções musicais) e também de corporalidade, do manifestar-se, descobrir-se e reconhecer-se, como indivíduo e ser coletivo.


Além da relevância econômica e da riqueza sociocultural e histórica, o Carnaval também promove a ocupação do espaço público por meio dessas manifestações e dos blocos, cordões, bate-bolas... Não há outra festa, principalmente excetuando as de cunho nacionalista ou religioso, que consiga reunir tantas pessoas para conhecer, desfrutar e construir espaços de convivência, no urbano e no rural.


Tudo isso sob a regra de ouro de todas essas festas dentro da festa: ser feliz e subverter a ordem natural, propondo novas formas de vivência, convivência e tolerância.


Viva o que nos faz vivos! Viva o Carnaval!



Este artigo é do Luís Henrique Campos é sócio da Tr3s e especialista em Políticas Públicas, Planejamento Estratégico, Desenvolvimento Institucional e Sustentabilidade.


📸A foto que ilustra esta publicação em nosso blog é do fotógrafo Wigder Frota.

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